








Prosopopeias I
Em rito de oferenda, a invenção do bicho-gente é entregue no seio da mata. Exposta ao vento e à chuva, aos pássaros e insetos, é acolhida, nutrida, fecundada por ela. Gestante da floresta, contempla o germinar de sementes e esporos por seu corpo. Musgos, líquens, samambaias reivindicam e tomam para si o território outrora antropizado, dotam-lhe de vida e anima. Raízes, micélios, microrganismos fazem festa em suas entranhas.
A oferenda, agora viva, pulsa, sente, reescreve traços, cores, formas, confunde-se com a paisagem, com a floresta.
A oferenda agora é viva, um metamorfo híbrido de objeto com bicho e planta, feito ruína de povo antigo, feito broto de planta que devora a calçada rachada, feito musgo na sombra do muro.




Prosopopeias II
Planta, gente, bicho, coisa entoam cantos e silêncios dia e noite, noite e dia. Na floresta, tudo se move, tudo está vivo. A chuva mora na planta que mora no bicho que mora na terra que mora na pedra que mora no rio que mora nas gentes.
Tudo se come, tudo se deixa comer, nada se acaba... começa no outro.





